domingo, 30 de março de 2008

BREVE MAGIA











Passeio em Genipabu - RN







Doce é o pássaro da juventude

Quanta ilusão traz na chegada

Nenhuma bela gaiola dourada

Vai aprisioná-lo para sempre.



Empresta-nos as suas belas asas

Com elas alçaremos lindos vôos

Além dos limites de nossos desejos

Onde a imaginação nos conduzir



Podemos voar alto, sem amarras

Amar com todas as nossas forças

Somos senhores da breve magia

Nossos dias se tornam infinitos



Tudo é possível, o mundo é nosso!

Sem medo do desconhecido

Tão bela e feliz é a existência...



Dominados pelo doce pássaro

Mais tarde chegaremos a notar

A perda desse encanto de voar

Além dos limites, em todo lugar



O nosso pássaro da juventude

Partiu sem adeus, ganhou altura

Foi em busca de outras paragens

Foi semear novas aventuras



Nos corações ainda quietos

Onde falta a emoção de viver,

Acordam para o vôo sem metas

Para a ilusão de domar o mundo.


Conceição Pazzola
Olinda, 03/06/2006.


sábado, 22 de março de 2008

OLINDA LINDA






Depois de tantos anos cheguei novamente às ladeiras de Olinda. Quase menina, durante mais de quatro anos subi e desci todo santo dia, ia e vinha do trabalho, do colégio, para ir à praia que possuía areia branca e mar aberto, limpo, tão diferente de hoje em dia, aos cinemas olindenses ou recifenses, aos encontros de brotos, às animadas retretas do Carmo, enfim, era uma vida deliciosa que não volta mais.

Rever a rua Bispo Coutinho acelerou o bip de meu coração, revi as igrejas antigas, o seminário, a casa do bispo transformada em loja de artesanato, o convento e a igrejinha da Conceição, o observatório, a caixa d’água onde será o mirante, a igreja da Misericórdia, a Academia de Santa Gertrudes onde cursei pedagogia enquanto ali funcionou a FACHO, transferida para Ouro Preto. Lá estava ela!

A linda casa onde moramos, meus pais, irmãos e eu. O que fizeram do porão e da minha goiabeira? Onde foi parar todo mundo, cadê o cachorro Leão, apesar de ser um vira-lata nos dava Bom-Dia, se abaixava todo ao ouvir o cumprimento? Deixei-os para trás quando parti, hoje nada é como antes.

A casa parece a mesma pelo lado de fora. Foi reformada para um restaurante, depois virou museu, atualmente é o Centro de Artesanato repleto de peças de rara beleza dos artesãos de Olinda: escultores, pintores e bordadeiras.

Perdi a coragem de debruçar-me à janela para ver passar o belo motoqueiro de todas as tardes; deixou de ser misterioso quando o encontramos numa das animadas retretas de domingo lá no Carmo.

Sem o capacete, Vina, a maninha cúmplice desfez o mistério que o cercava, a sua irmã se chamava Zaíra, a linda miss Pernambuco que perdeu por muito pouco o cetro de miss Brasil.

A paquera congelou na subida da ladeira para não provocar ciúmes na ex-namorada também moradora da Bispo Coutinho, razão de tantas idas e vindas ao entardecer...

As pedras seculares daquelas ladeiras guardam muitas histórias como essa. Ah, se elas falassem.


sábado, 15 de março de 2008

SONHO BREVE PELAS LADEIRAS






Abriu-se a cortina de lembranças

Descompassado bate o coração

Ela ainda se recusa a acreditar

Que voltou ao mesmo caminho

Segue com a alma em suspenso

Nas velhas e conhecidas ladeiras

Alimenta a ilusão de ser menina

E desfazer as marcas do tempo.

Os anos passaram destroçados

Sobre ela e todos seus anseios

Restaram só cicatrizes anciãs

Nesse coração descompassado


Sobe a Misericórdia, São Francisco,

Desce pelo Pai Edu ou Bonsucesso

São caminhos repletos de saudade

Antigos, breves sonhos dispersos.

Restaram vagos vestígios na alma

Desfeitos agora pela mulher robô

Apagaram-se as antigas ilusões

Sararam as suas velhas feridas.


Conceição Pazzola

Março/2008

domingo, 9 de março de 2008

DIA DA MULHER


Bodódromo de Petrolina - PE


Escuto a chuva torrencial e inesperada sobre a terra quente neste dia consagrado à mulher.

O céu também festeja, dançam estrelas vestidas de fadas de braços dados aos querubins enquanto as nuvens se desmancham.

É muito bom que exista Oito de Março para lembrar quanto uma mulher significa.

Esposa, mãe, companheira, filha, amiga, profissional, dona de casa, somos multifacetadas. Sem nós o mundo seria impossível.

Todos os dias são nossos. Quem carrega o filho no ventre, amamenta, vela o sono quando adoece, embranquece os cabelos de preocupação enquanto ele está na rua?

Neste dia dedicado às mulheres, o pensamento voou até aquele dia de maio longínquo, esquecido e cheio de teia de aranha lá no fundo de meu cérebro, de repente veio à tona.

Conhecíamo-nos há tão pouco tempo. Você parecia louco para formalizar o que acontecia tão naturalmente entre nós.

Tanto insistiu que venceu a minha relutância e fomos olhar as alianças que você havia visto numa vitrine.

Era um dia de sol ameno, passeávamos sempre abraçados pelas ruas do Rio de Janeiro, como dois namorados que éramos.

Diante da joalheria vi o seu contentamento. Pouco importavam alianças. Desde menina sou avessa a formalidades, mas, vencida por sua cara de felicidade fiz tudo como manda o figurino. Noivamos.

Costurei um vestido novo para a ocasião, gastei o sábado na cozinha de minha irmã onde me hospedava. Ela reuniu meia dúzia de parentes para testemunharem o pedido formal e as alianças.

Sete meses depois nos casamos na pequena igreja de Santa Rita, pertinho da Candelária, a majestosa e conhecida catedral. Como dizia o poeta Fernando Pessoa “tudo vale a pena se a alma não é pequena”.

De repente minha vida deu uma guinada de 180 graus.

Um dia, deparei-me com a sua aliança numa gaveta, perdida entre camisas e objetos pessoais.

Olhei para a mão esquerda; lá estava ela, sozinha, enquanto a outra jazia esquecida.

Não era caso para brigas.

Mantive a coerência, retirei-a do anular esquerdo onde você havia colocado diante do altar. Ficou somente a marca.

Você tentava justificar diante das pessoas que eu preferia usar prata. Pouco importava os outros.

Uma mulher deve garantir o espaço que merece, com os mesmos direitos de seu homem.

Formamos uma família feliz. Com seus altos e baixos passou muito depressa.

Você partiu e sequer nos despedimos.

Tento conviver com isso, pouco importam os anos ou a morte. Ela não vai nos separar, meu amor.


Conceição Pazzola