quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

O VISITANTE DE DEZEMBRO



Nas ruas apinhadas, nos centros de compras, há gente indo e vindo, todo mundo comprando às pressas. Ninguém dispõe de tempo para apreciar o nascer do dia, o raio de sol que parece brincar nas vidraças da janela, nas poças d’água das calçadas. Neste clima materialista, como seria recebido o aniversariante máximo desse mês tão festivo?

Se Jesus por milagre aparecesse no meio da rua, os carros freiariam a tempo? E as pessoas acreditariam, mesmo, que “Ele” voltou? Nos balcões apinhados das lojas, os olhares de cobiça se desviariam para o ilustre visitante?

O que Ele acharia do vai-e-vem enlouquecido, das vitrines cheias de papai Noel, árvores de Natal cobertas de falsa neve, do trânsito engarrafado das ruas, de tantas pessoas que esqueceram o significado de “Amai-vos uns aos outros” ?

Talvez seja preferível que não venha nos visitar, pelo menos, livra-se de sofrer decepção. Nesta insana época pré-natalina de consumismo desenfreado, talvez nem Jesus compreendesse o que toda essa gente diz comemorar no dia 25 de dezembro.

A Sua humildade magnânima a ponto de escolher uma manjedoura para chegar na terra, a crença na humanidade que O fizeram pronunciar: "Pai, perdoai-os porque eles não sabem o que fazem!”

Teria ainda esta crença, falaria a mesma coisa a esta humanidade de robôs?

Meu Deus, é melhor Jesus nem tomar conhecimento (como se isso fosse possível) do que nós chamamos hoje de Natal. Ele, que é tão bondoso, não merece tamanho desencanto.

Ainda é tempo dos homens aprenderem a olhar o seu semelhante, não apenas durante o mês natalino. Quem sabe, assim todos pudessem ser bem mais felizes.

Conceição Pazzola.

Dezembro/1977.


segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

GERÚNDIO





Ilha do Rodeadouro - Rio São Francisco
Petrolina/Pernambuco.








Estou de mãos vazias flanando

Vim sorrindo e volto cantando

Pulsa em mim, ecoa no peito

Incontido amor, amor perfeito.

Voa constante sombra incerta

Sobre aquela menina inquieta

Ainda não revelada, suspensa

Em nuvens singelas, desfeitas.

Voa ainda no tempo andarilho

Perdida em queixas amiudadas

Quis olvidar sua dor desdenhada

E agora se acha liberta, palmilha

Sozinha por desconhecida trilha.

Persegue velha miragem doentia

Um oásis de paz, cheio de luzes

Pressente ali o seu cálido ninho

Onde vai deixar as duras cruzes.

Liberta para sempre de suas lidas

Encontrará seu admirável jardim

Ouvirá belas e sedutoras cantigas

E cantará do princípio até o fim.


Conceição Pazzola.

06/06/1999.

sábado, 15 de dezembro de 2007

ENCONTRO DOS PI E DOS MSF NO TERREIRO DE LUÍS GARRAFA, PINA


MOMENTO SOLENE:
Conceição e Clóvis na hora da entrega de Os Pacientes de Doutor Fróid, sorteados por Calvino!

















Pausa para ouvir Calvino cantar a letra do Barco Virado com uma ajudinha involuntária do "coleguinha" Martinho da Vila... Notem o sorriso do pandeirista, gentes.
















As risadas com Tânia e sua amiga portuguesa Maria Manuel (a esquerda).
















Os meus escudeiros Elena, Álvaro, Clóvis e o sorriso lindo de Nani no meio da turma.
















Aquele abraço de Nani...
















Irani Nani ficou no escuro na primeira foto. Na segunda teve a cabeça cortada e a loura é Lourdinha ao lado de minha Elena.
















Hora de aplaudir e o fotógrafo sempre em atividade!



















Lothar e sua turma começaram a tocar, na segunda foto, atrás de mim e de Vilminha Abubua aparece o dono do terreiro, por sinal muito boa praça.

















Vejam bem o que vocês perderam!




Quando a farra ainda estava no começo...













terça-feira, 11 de dezembro de 2007

PARA SEMPRE LÍLIA


PARA SEMPRE LILIA
Sueco faz retrato cruel da juventude perdida

"PARA SEMPRE LÍLIA"


Ninguém poderia supor

Onde o vento sopra no telhado

Onde a chuva cai na vidraça

Ou o carro de bombeiro apita

E os carros passam velozes

Rumo aos seus vários destinos

Ninguém poderia supor

Sobre os telhados das casas

Nas coberturas de edifícios

Antes e tão perto do céu

Passeiam os anjos felizes.

Ninguém poderia supor

Quanto eles sonharam

Mas a vida cruel destruiu

Todas as ilusões e sorrisos

Todos os sonhos de Lília

Ninguém podia supor

De seu tinha só o corpo

Jovem e tão cheia de fé

No amor e nas palavras

Tão fáceis de acreditar

Nem ela haveria de supor

Quanto pode ser tão cruel

A frieza nos modos do homem

A cada hora vem novo cliente

Urgia reaver todos os gastos

Cobrados no corpo de Lília

Nem ela poderia supor

Quando o anjo abriu asas

Acolheu a sua grande dor

Enxugou suas lágrimas

Ajudou-a a pensar grande

Mostrou grandes asas brancas

Com elas poderia ir muito longe

Encontrariam juntos novo caminho

Em qualquer lugar no azul do céu

Sobre os lixos daquela cidade cruel

Voariam juntos e para sempre, afinal

Lília conquistou suas brancas asas

Sentiu o abandono das correntes

Abraçou o seu alvo anjo da morte

Alcançou o seu direito de voar

Ninguém haveria de supor

Sobre as casas e os edifícios

Agora existe uma legião de anjos

Eles foram marcados para morrer

Com seu anjo ela vai rumo ao céu

Livre de todas cobranças e luxúrias

Lília conquistou suas brancas asas

Deu adeus a todas amarguras.


Conceição Pazzola

Olinda, 11/12/2007


quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

SEIS DE DEZEMBRO










6/12/58








Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer...

Queria ter aceitado
As pessoas como elas são
Cada um sabe alegria
E a dor que traz no coração...

O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...

Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos
Com problemas pequenos
Ter morrido de amor...

Queria ter aceitado
A vida como ela é
A cada um cabe alegrias
E a tristeza que vier...

O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...(2x)

Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr...

Titãs / Composição: Sérgio Britto




sábado, 1 de dezembro de 2007

LEMBRANÇAS






Maio de 1990/Sennori-Sardegna/Itália


Na chegada, a ceia com a famiglia, que rolou até de madrugada.





Se a calidez de novo sol

Afugentar de minh’alma

Os desencantos do mundo

Encontrarei prazer e calma

Se misterioso perfume devolver

Lembranças, emoção irresistível

Sentirei teu aroma, o doce prazer

E o bálsamo à dor imprevisível

Comigo morre tua voz, acabou-se

O consolo de minha vida sombria

Hoje ainda te chamo. Antes fosse

Novo tempo de perdão, de alegria.

Permaneço na vida teimosa, calada

Sem abrir a inviolada porta de saída

Perdi um dia sua chave encantada

Onde guardei ternuras esquecidas.

Olinda, 28/06/1999.

Conceição Pazzola