segunda-feira, 30 de abril de 2007

PIUIU..UIU...


Lá vai o trem que me leva

Cada vez vai mais depressa

Cada curva é só uma promessa

De uma parada ou de chegada

Segue a viagem sem trégua

Pelos trilhos, passam estações

De vez em quando ele sossega

Ano após ano, lá vai o trem...

Sem que perceba, vou sozinha

Levo na viagem todas as escolhas

Cada vez seguimos mais depressa

Cada curva é só uma promessa

A minha chegada se avizinha!

Passam os anos, vão com o vento

Mal desmancham os cabelos

Para trás deixo os breves momentos

Apagaram-se imagens no espelho

Lá vai o trem que me leva

De quando em vez ele resfolega

Distante da hora de partida

Falta só uma nova trégua

Nessa viagem só de ida.

Conceição Pazzola

Olinda, 30/4/2007

quinta-feira, 26 de abril de 2007

UM DIA MUITO ESPECIAL



26 de Abril

Este dia é muito especial

Em 26 de abril nasceu o meu querido e saudoso irmão Alfredo, o terceiro filho de Alfredo e Sebastiana. Serviu à Marinha do Brasil no Rio de Janeiro, onde viveu por muitos anos. Foi lá que ele conheceu a esposa Iara. Em 26 de abril de 1960 eles moravam na Vila da Marinha em Recife, para onde sempre sonhou voltar. Nesse dia, o meu irmão e Iara batizaram o meu filho caçula Alfredo, que um dia conheceu Cleone, e com ela se casou aos vinte anos.

A primeira filha deles ganhou o nome de Clara. É uma menina tímida e muito linda. Nasceu no dia 26 de abril de 1990 e hoje completa 17 anos.

Sou muito feliz por tê-la como neta.

Seja onde for que esteja, acredito que o meu irmão tem motivos para estar muito alegre neste 26 de abril.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

A METAMORFOSE, Franz Kafka


“Oh, Deus, pensou ele, que profissão extenuante que fui escolher! Entra dia, sai dia, e eu sempre de viagem. As agitações do negócio são muito maiores do que propriamente o trabalho em casa, e ainda por cima impuseram sobre mim essa praga de ter de viajar, os cuidados com as conexões de trem, a comida ruim e desregulada, contatos humanos sempre cambiantes, que nunca serão duradouros e jamais afetuosos. Que o diabo leve tudo isso!”

Ao formular esse pensamento, Gregor Samsa já havia se metamorfoseado num inseto monstruoso deitado sobre suas costas duras como couraça. Levantou um pouco a cabeça e viu seu ventre abaulado, marron, dividido em segmentos arqueados. Suas muitas pernas, lamentavelmente finas em comparação com o volume do corpo, vibravam desamparadas ante seus olhos.

Assim começa A Metamorfose, de Franz Kafka, a incrível história do homem que acorda certa manhã transformado em inseto. Gregor Samsa, o caixeiro viajante que há cinco anos trabalhava sozinho para sustentar os pais, a irmã e pagar todas as contas. Quando pela primeira vez ele não cumpre o horário de todos os dias, o gerente em pessoa vem buscá-lo em casa, primeiro a mãe, depois o pai insistem na porta para saber se está doente.

Gregor tem como único refúgio o seu quarto, onde acredita poder ficar até que tudo volte ao normal. Isso nunca acontecerá. Durante todo o desenrolar da trama ele sofre com a nova situação e procura subterfúgios para ocultar-se de sua família, que não compreende por que ele se recusa a sair, a mostrar-se.

A primeira pessoa a vê-lo como pavoroso inseto é sua irmã Grete, que apesar do choque sente pena e nojo, embora continue a alimentá-lo e protegê-lo.

Quando o pai descobre a verdade, restam poucas esperanças para Gregor continuar a viver. Até a mãe vê o filho que virou inseto e desmaia. Grete então sente raiva aliada à repulsa, daí em diante todos parecem aliar-se num só objetivo: desalojar Gregor de seu esconderijo, livrar-se dele.

Antes que Gregor Samsa se transformasse num horrível inseto, ninguém de sua família se dispunha a trabalhar ou a sustentar-se.

A nova situação os faz unir forças pela sobrevivência. Primeiro tentam manter inquilinos, mas, a presença de Gregor acaba por afastá-los.

Quando finalmente os sofrimentos do repugnante inseto terminam, é a faxineira quem se encarrega de removê-lo. A família respira de puro alívio.

O pai, a mãe e Grete escrevem cartas de desculpas para as firmas onde agora trabalham, antes de saírem a passear e todos encontram novas razões para considerar que afinal de contas a vida vale muito a pena.



Conceição Pazzola

25/04/2007

ESCUTA


Escuta

O barulho da água

Que rasga

O leito da terra

E jorra serena

No meio do mato

Que vibra feliz

Escuta

O eco do grito

Dessa voz

Que te chama

Desse amor

Que reclama

A sede

Sem cura

A vida

Sem graça, escura

Perdida.


Conceição Pazzola Olinda, 16/4/2007



23 DE ABRIL


Verdadeiro guerreiro da fé, São Jorge venceu contra Satanás terríveis batalhas, por isso sua imagem mais conhecida é dele montado num cavalo branco, vencendo um grande dragão. Com seu testemunho, este grande santo nos convida a seguirmos Jesus sem renunciar o bom combate.

Lendas: um horrível dragão saía de vez em quando das profundezas de um lago e se atirava contra os muros da cidade trazendo-lhe a morte com seu mortífero hálito. Para ter afastado tamanho flagelo, as populações do lugar lhe ofereciam jovens vítimas, pegas por sorteio. um dia coube a filha do Rei ser oferecida em comida ao monstro. O Monarca, que nada pôde fazer para evitar esse horrível destino da tenra filhinha, acompanhou-a com lágrimas até às margens do lago. A princesa parecia irremediavelmente destinada a um fim atroz, quando de repente apareceu um corajoso cavaleiro vindo da Capadócia. Era São Jorge.

O valente Guerreiro desembainhou a espada e, em pouco tempo reduziu o terrível dragão num manso cordeirinho, que a jovem levou preso numa corrente, até dentro dos muros da cidade, entre a admiração de todos os habitantes que se fechavam em casa, cheios de pavor. O misterioso cavaleiro lhes assegurou, gritando-lhes que tinha vindo em nome de Cristo, para vencer o dragão. Eles deviam converter-se e ser batizados.

Datas Marcantes No século XII, a arte, literatura e religiosa popular representam São Jorge, como soldado das cruzadas com manto e armadura com cruz vermelha, nobre, um cavalo branco, com lança em punho vencendo um dragão. São Jorge é o cavaleiro da cruz que derrota o dragão do mal, da dominação e exclusão.

Desde o século VI, havia peregrinações ao túmulo de São Jorge em Lídia. Esse santuário foi destruído e reconstruído várias vezes durante a história.

Jorge de Capadócia

Caetano Veloso

Autoria: Jorge Ben Jor


Jorge sentou praça
na cavalaria
eu estou feliz porque eu também sou da sua companhia (2X)

Eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Para que meus inimigos tenham maõs e não me toquem
Para que meus inimigos
tenham pés e não me alcancem
Para que meus inimigos
tenham olhos e não me vejam
E nem mesmo o pensamento
eles possam ter para me fazerem mal
Armas de fogo
meu corpo não alcançarão
Facas e espadas se quebrem
sem o meu corpo tocar
Cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar
pois eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Jorge é de Capadócia

PRESSA








Quando chove

O pensamento voa

Ao teu encontro

Debruçada na sacada

Vejo o teu vulto

Que está à minha espera

Do outro lado da rua

Atrás de um poste

Protegido na penumbra

Longe da luz

Que ilumina a calçada

Quando chove

Sinto vontade de amar-te

De cair em teus braços

E sentir o cálido refúgio

Onde me sinto feliz

Quando chove

Esqueço a dor da partida

A chuva não é a mesma

Perdi teu amor para sempre

Apagou-se o poste, a vida

Conceição Pazzola

Olinda, 18/4/2007

sábado, 21 de abril de 2007

QUANDO NIETSZCHE CHOROU, Resumo


Nesse romance histórico o psiquiatra Irvin D. Yalom mistura realidade e ficção, drama existencial e suspense num envolvente enredo sobre amor, auto-conhecimento e amizade. Envolve, além de Breuer, Nietzsche e Freud, Richard Wagner, paixões obsessivas, ciúmes, surgimento da psicanálise e, portanto, dores da alma.

De férias em Veneza, Josef Breuer ouve o apelo de Lou Salomé para que trate o seu amigo Nietszche que sofre de enxaqueca, depressão e tendência ao suicídio. Ele mesmo procura superar os tormentos sofridos durante a aplicação da teoria de “terapia através da conversa” na paciente Anna O, que lhe provoca insônia e pesadelos.

O seu casamento com Mathilde atravessa uma grave crise por seu envolvimento emocional e sexual com Anna O (codinome para sua paciente Bertha) durante o tratamento.

A história acontece no século 19, em Viena, em meio à ebulição intelectual da época e às vésperas do nascimento da psicanálise Josef Breuer estava apenas começando a desenvolver sua grande conquista científica voltada para a mente humana e seu aluno e amigo Sigmund Freud é um jovem médico, ainda muito longe de ser considerado o “pai” da Psicanálise (o caminho mais curto entre a causa e o efeito das dores da alma).

O filósofo alemão Friedrich Nietszche atravessa graves crises de desespero com impulsos suicidas por causa de suas insuportáveis enxaquecas e convulsões, em parte provocadas por seu romance frustrado com Lou Salomé, jovem russa de costumes considerados avançados para a época em que vivem.

Depois de muita relutância Nietszche se torna paciente de Breuer. Daí em diante o livro se torna cada vez melhor, quando estas duas personalidades se encontram, conhecem uma à outra. Durante as sessões de análise psicanalítica os resultados sofrem altos e baixos provocados pelas posturas filosóficas de Nietszche e a visão do mundo de Breuer, de uma forma extremamente humana e próxima, com rara influência do jovem Freud.

O final do livro acontece de forma suave e surpreendente.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

RIO-HOMEM


Águas limpas, águas turvas

Reflete sol, reflete o tempo

Encrespa ao vento, se vem chuva

Se vier seca, perde o tormento

Indefeso, desnudo, vai ao relento

Nele navegam peixes e homens

Barcas, roupas, bichos

Cobra-d’água, jacarés, lixo

E segue o percurso inda rijo

Doce, terno, salgado, lerdo

Paciente, desejado, detestado

Vai ao encontro do mar eterno

Quanto sofre, rejeita, contorce

Obstinado...

Homem fosse, arma teria

Falsa defesa, força bruta

Escorre no leito em desalento

Cheio transborda alegre luta

Vai e seco morre triste

Só por um instante, inexiste.

Conceição Pazzola

22/05/1985.

CONTENÇÃO


Não é fácil sorrir

Quando se quer chorar

Não é fácil falar

Quando se quer silenciar

Não é fácil recordar

Quando se quer esquecer

Não é fácil voltar a viver

Quando se quer partir

Tão difícil é chegar sem ir

Sem ninguém perceber

Partir sem ninguém afetar

Cantar mesmo sem querer

Nem o coração mandar

Calar o que se quer gritar

Ao mundo para ser ouvido

E afinal de contas descobrir

Pouco ou nada disso importa

Somente, quanto se suporta

Enquanto o mais importante

Continua sem resposta.

Conceição Pazzola.

23/03/1998.

quarta-feira, 4 de abril de 2007

ÓPERA DOS MORTOS, RESUMO


Autran Dourado


Ópera dos Mortos é uma obra prima de rara e triste beleza escrita por Autran Dourado. A história, a vida e a amplidão da condição humana no interior de Minas.


No sobrado da família Honório Cota restou a filha Rosalina, o imponente relógio-armário parado na hora da morte de sua mãe, as flores de pano e a escrava Quiquina que se encarrega de vendê-las pelas ruas da cidade por onde Rosalina raramente aparece, sempre trancada entre as paredes sufocantes, as lembranças da família, dos mortos e do passado até aparecer Juca Passarinho.

A monotonia, a solidão, a bebedeira a empurram para os braços de Juca, que a via o dia inteiro como uma senhora encastelada em sua soberba, mas a noite a embriaguez transforma em flor de encantos e sedução. Apesar da marcação cerrada da escrava muda Quiquina a vigiá-la com os olhos, pois a boca não podia falar, a desgraça recai sobre a sua menina.

Por ordem de Quiquina só resta a Juca Passarinho carregar o pequeno e macabro embrulho na calada da noite para enterrar nas voçorocas, verdadeiras goelas plantadas na terra que avistara pela primeira vez ao chegar na cidade. Mas a coragem lhe falta e Juca Passarinho cava a terra vermelha do cemitério com as próprias mãos, ali deixa o fruto do amor proibido antes de fugir daquela cidade, tão sozinho como surgiu.

Rosalina passa a visitar o cemitério nas caladas da noite com seu vestido branco, sua flor de pano no cabelo e sua cantilena triste assombra quem a ouve.

No final do romance, desfeitos os mistérios que envolvem a ensandecida e infeliz cantilena, Rosalina é conduzida para longe da cidade para nunca mais voltar.

LÁ FORA



Somente o murmúrio das folhas

Agitadas por súbita ventania

Responde se chamo teu nome

No escuro dessa noite vazia

Procuro voltar a roda do tempo

Quando te amava e era feliz

Nenhuma magia do pensamento

Devolve a paz que perdi

Somente as estrelas piscam no céu

Quando a noite caiu sorrateira

Lembro o calor de tuas mãos

Choro minhas lágrimas derradeiras

Ouve, amor, o murmúrio do vento

Vencidas, as pobres folhas caem

Secarão muito em breve ao relento

Como as folhas a vida se desfaz...

Acorda, amor, logo surgirá a aurora

Vem dividir a madrugada comigo

Esquece a vilania do mundo lá fora

Antes que a terra seja nosso abrigo

Conceição Pazzola

20/3/2007