segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

PASSEIO




Agora que a longa chuva deu trégua
Sem borbulho nas calhas de telhados
Vejo entre nuvens o colorido arrebol
E quero passear em calçadas molhadas

Vou ao encontro de outras meninas
Tão felizes e descalças como eu sou

O longo temporal e a forte ventania
Derrubou sob árvores gostosos oitis
Em breve teremos sorrisos amarelos
Trocaremos nossos alegres segredos

Depois de risadas e suspiros reprimidos
Impacientes, envoltas no brilho do sol
Em grupos ruidosos pedalamos bicicletas
Seguidas de perto por olhares preocupados
Daqueles que serão um dia nossos maridos.

De tanto pedalar ao sabor da ventania
Teremos desmanchados nossos cabelos
Inflamados em nossos peitos os desejos
Inconfessos verdes anos de puberdade

Sufocada sob as pregas do vestido
Aflorada em rimas, cantigas e solfejos
Repartidos entre amigas sem juízo

No regresso às nossas casas ao fim do dia
Afogueadas por mil risadas de euforia
Unimos melodiosos assobios irritantes
Ao canto de cigarras, sabiás, bem-te-vis
Entre os galhos de árvores vigilantes
Habitam esses comedores de oitis.

Conceição Pazzola
Olinda, 13 de julho de 2002 (09:20)




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