sábado, 9 de dezembro de 2006

LAGARTIXA ALADA, trecho



Os dias passaram, antes de terminar o ano a paciência dos homens que vigiavam as propriedades ribeirinhas chegou ao limite. O incêndio começou pelos fundos do terreiro com a primeira tocha atirada sobre o antigo armazém, ocioso desde quando Moruba e Sinhana deixaram de cultivar arroz à beira da barranca do riacho. Propagou-se rapidamente, consumiu também o galpão onde guardavam animais e frutas antes de negociá-los em feiras-livres ou quitandas à beira de estradas.

O calor e as labaredas se espalharam por todos os cantos até rodear a casa por completo; mesmo assim elas sentiram calafrios ao verem o volume de negro rolo de fumaça tangido pelo vento em direção ao céu. Sinhana tornou a entrançar os cabelos em desalinho, o rosto marcado pela disposição de lutar que Bibiana em pânico não teve tempo ou disposição de notar, dedicada a esticar a mangueira com as mãos trêmulas desde o tanque de lavar roupa até o rastro de fogo, correndo veloz pelo mato.



Trecho do livro LAGARTIXA ALADA, de Conceição Pazzola.




 

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