Já anoitecera. Pensou em voltar para casa quando avistou a criança no acostamento. Freou ao seu lado, como imaginara o menino precisava de ajuda. A avó sofrera um ataque, um caso de vida ou morte. Não pensou duas vezes, deixou-o subir e seguiu por um beco ladeado por casebres. A um sinal do menino parou diante de um deles, mal estacionou a criança escapou no beco escuro. Na mesma hora, do casebre surgiram dois homens mal encarados de armas em punho.
Trancado no porta-malas percorreu ruas e avenidas em alta velocidade, a cada padaria, bar, restaurante ou farmácia os dois comparsas desciam para assaltar.
O coração aos pulos e a esperança cada vez menor de sobreviver pensava nos filhos e na mulher que o esperavam.
O dia amanhecera quando finalmente o suplício chegou ao fim, recebeu ordem para descer do porta-malas; obedeceu, havia somente o matagal em torno.
Os dois bandidos iniciaram violenta discussão para decidir o seu destino, enquanto o sarará magro de estatura pequena queria matá-lo, o mulato franzino e alto preferia deixá-lo vivo.
- Olhem para mim, tenho esposa e filhos. Levem o meu carro, farei de conta que nada aconteceu – arriscou num fio de voz.
Quando o despertador começou a tocar às seis e meia a esposa acordou, viu o marido de olhos vidrados fixos no seu rosto. Nascera de novo.
Conceição Pazzola
Junho/2008
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