quarta-feira, 25 de abril de 2007

A METAMORFOSE, Franz Kafka


“Oh, Deus, pensou ele, que profissão extenuante que fui escolher! Entra dia, sai dia, e eu sempre de viagem. As agitações do negócio são muito maiores do que propriamente o trabalho em casa, e ainda por cima impuseram sobre mim essa praga de ter de viajar, os cuidados com as conexões de trem, a comida ruim e desregulada, contatos humanos sempre cambiantes, que nunca serão duradouros e jamais afetuosos. Que o diabo leve tudo isso!”

Ao formular esse pensamento, Gregor Samsa já havia se metamorfoseado num inseto monstruoso deitado sobre suas costas duras como couraça. Levantou um pouco a cabeça e viu seu ventre abaulado, marron, dividido em segmentos arqueados. Suas muitas pernas, lamentavelmente finas em comparação com o volume do corpo, vibravam desamparadas ante seus olhos.

Assim começa A Metamorfose, de Franz Kafka, a incrível história do homem que acorda certa manhã transformado em inseto. Gregor Samsa, o caixeiro viajante que há cinco anos trabalhava sozinho para sustentar os pais, a irmã e pagar todas as contas. Quando pela primeira vez ele não cumpre o horário de todos os dias, o gerente em pessoa vem buscá-lo em casa, primeiro a mãe, depois o pai insistem na porta para saber se está doente.

Gregor tem como único refúgio o seu quarto, onde acredita poder ficar até que tudo volte ao normal. Isso nunca acontecerá. Durante todo o desenrolar da trama ele sofre com a nova situação e procura subterfúgios para ocultar-se de sua família, que não compreende por que ele se recusa a sair, a mostrar-se.

A primeira pessoa a vê-lo como pavoroso inseto é sua irmã Grete, que apesar do choque sente pena e nojo, embora continue a alimentá-lo e protegê-lo.

Quando o pai descobre a verdade, restam poucas esperanças para Gregor continuar a viver. Até a mãe vê o filho que virou inseto e desmaia. Grete então sente raiva aliada à repulsa, daí em diante todos parecem aliar-se num só objetivo: desalojar Gregor de seu esconderijo, livrar-se dele.

Antes que Gregor Samsa se transformasse num horrível inseto, ninguém de sua família se dispunha a trabalhar ou a sustentar-se.

A nova situação os faz unir forças pela sobrevivência. Primeiro tentam manter inquilinos, mas, a presença de Gregor acaba por afastá-los.

Quando finalmente os sofrimentos do repugnante inseto terminam, é a faxineira quem se encarrega de removê-lo. A família respira de puro alívio.

O pai, a mãe e Grete escrevem cartas de desculpas para as firmas onde agora trabalham, antes de saírem a passear e todos encontram novas razões para considerar que afinal de contas a vida vale muito a pena.



Conceição Pazzola

25/04/2007

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