Na parede impessoal
de um consultório médico
sinto a vida escorrer
por um riacho manso
Na tosca ponte de madeira
vai pela clareira do bosque
uma frágil carroça atrelada
a um jumento castanho
Obedece ao homem de chapéu
ladeado por duas crianças
de faces coradas e risonhas
No coração da mata verde
esconde-se uma casinha branca
coberta por telhado vermelho
e misteriosas janelas azuis
Do outro lado do riacho
uma camponesa tange
a sua cabra malhada
Que teima em mastigar
bocados da relva úmida
enquanto o sol nascente
desponta entre as nuvens
Vara os ramos de árvores
à procura da limpidez
das águas frias do riacho
Como num passe de mágica
piso na relva encharcada
pelo orvalho da madrugada
Sou a mulher camponesa
tanjo minha cabra malhada
atravesso a ponte a cantar
Retribuo ao beijo do homem
afago as lindas crianças
com eles sobre a carroça
vou aonde me levarem
Debruço-me nas águas
serenas do riacho manso
preciso ver os peixinhos
prateados e saltitantes.
Conceição Pazzola
Olinda, 12/2/08.
4 comentários:
E, ainda bem, querida Ceiça, que possuímos essa inerente capacidade de "voar", de ir além da realidade, às vezes, fria e impessoal.
Beijos!
Um poema muito bonito e descreve um paraíso terrestre cheio de peixinhos prateados e saltitantes.
Gostaria de agradecer a visita no Poder do Amor, e dizer-te que além de simpática tem lindas poesias, acho que o lugar onde vc mora é grande parte de sua inspiração, Olinda é linda! rsrsrs - Abraços de abraçar....Bom fim de semana....Marcinha*
A sala era impessoal, mas a mulher na sala era muito sensível.
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