sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

FALA


Foto: Fundo do mar de Picãozinho -João Pessoa, PB


Segundo repouso em Atlântida

Opacos eus que não se escondem

Ardendo na pele,

Nas bordas do mundo.

Correm dos Ciclopes, das Sílfides.

E se espraiam na morna areia atlântica.

Trazem o ocaso para a linha da cintura,

Avermelhando o amarelo chacra.

Translúcidos eus esfumaçados

Abordam as marés como gaivotas.

E os bicos mergulham e sentem frio.

Arrepiam-se.

Piam.

O mar será minha guarida.

Essa piscosa casa nacarada,

Tritônica.

Sílvia Câmara

http://brisapoetica.blogspot.com


Fala

Falo do silêncio

que há

nas profundezas

do mar azul

é o reino

encantado

do rei Netuno

de belas sereias

algas marinhas

navios antigos

silencioso mundo

onde foi parar

a criança

sozinha.

Conceição Pazzola


Fala

Em meu silêncio,

falo de desertos e

pássaros de areia

que se apagam

e se redesenham

inesquecíveis

inexplicáveis

de sonho

e areia.

Falo do que lacrimeja

o olho.

Martha

http://mariamuadie.blogspot.com


FALA

Falo de agrestes

pássaros de sóis

que não se apagam

de inamovíveis

pedras

de sangue

vivo de estrelas

que não cessam.

Falo do que impede

o sono.

Orides Fontela (de Teia,1996)

Biobibliografia:

Orides de Lourdes Teixeira Fontela nasceu em São João da Boa Vista, interior de São Paulo, em 21 de abril de 1940. Começou a escrever poemas aos sete anos de idade. Como ela mesma dizia, sua família "não tinha base cultural, meu pai era operário analfabeto, de modo que a cultura que peguei foi na base do ginásio, escola normal e leitura". Aos 27 anos deixou sua cidade natal e veio morar em São Paulo com dois sonhos na cabeça: entrar na USP e publicar um livro. Cumpriu os dois: fez Filosofia e publicou seu primeiro livro, Transposição , com a ajuda do professor Davi Arrigucci Jr., seu conterrâneo. Depois de formada, foi professora do primário e bibliotecária em escolas da rede estadual de ensino. Publicou ainda Helianto (1973), Alba (1983), Rosácea (1986), Trevo 1969-1988 (1988) e Teia (1996). Com Alba, recebeu o prêmio Jabuti de Poesia, em 1983; e com Teia, recebeu o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte, em 1996. Sempre com dificuldades financeiras, no final da vida acabou sendo despejada de seu apartamento no centro da cidade e foi viver com sua amiga Gerda na Casa do Estudante, um velho prédio na Avenida São João. Era uma pessoa irritadiça e muitas vezes se meteu em encrencas, brigando com seus melhores amigos. Morreu em Campos de Jordão aos 58 anos, no dia 4 de novembro de 1998 de insuficiência cardiopulmonar na Fundação Sanatório São Paulo. (Jornal da Poesia)


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