quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

COMO RELÂMPAGO EM DIA DE TEMPORAL


Pôr-do-sol em João Pessoa/PB






O Carnaval sempre deixa muita saudade. Há o tempo para brincar, sorrir, cantar, para ser feliz, feliz, feliz até a quarta-feira de cinzas, há também o tempo de lembrar velhos carnavais.
O lema é sempre o mesmo: liberdade!
Esqueça os problemas, viva intensamente.
Carnaval também é ver o filho (ou a filha) vibrar de alegria: Mãe, ouça a música do bloco, sabe onde estou? No largo do Amparo! E o celular no ouvido me traz a certeza de que a vida é mesmo um carrossel, tudo se repete. No largo do Amparo...
Ah, quanta história aflora, acelera o pulso, dá saudade...
Meu pai prendia-me a mão e conduzia-me entre
as bancas dos vendedores ambulantes de reco-reco, mané gostoso, lanças perfume, pandeiros, confetes e serpentinas, todos numa gritaria ensurdecedora. Era preciso andar pelo meio da rua.
Do Largo do Amparo vi tremular pela primeira vez o belo estandarte da Pitombeiras dos Quatro Cantos sustentada por um brotinho - era assim que chamávamos o homem novo e bonito.
Por ele passei a suspirar na mesma hora, sorte minha, nos reencontramos no clube Atlântico onde a Pitombeiras encerrava o seu desfile.
Levei um tombo no meio do salão, com um sorriso de um canto a outro da boca ele correu a socorrer-me, juro, não foi de caso pensado. Pulamos juntos até o fim da manhã de sol.
Ao chegar a quarta-feira de cinzas o príncipe virou sapo e a vida seguiu o seu curso.
Quem era aquela menina? perguntou ele ao meu primo. Que importância faz?
Amor de carnaval é como o relampejar no céu antes do temporal. Lindo, vibrante, clareia tudo por um instante, depois desaparece.

Conceição Pazzola


Quem é você?

Adivinhe, se gosta de mim

Hoje os dois mascarados
Procuram os seus namorados

Perguntando assim:

Quem é você, diga logo

Que eu quero saber o seu jogo

Que eu quero morrer no seu bloco
Que eu quero me arder no seu fogo

Eu sou seresteiro

Poeta e cantor

O meu tempo inteiro
Só zombo do amor

Eu tenho um pandeiro

Só quero violão

Eu nado em dinheiro

Não tenho um tostão
Fui porta-estandarte

Não sei mais dançar

Eu, modéstia à parte
Nasci pra sambar

Eu sou tão menina

Meu tempo passou

Eu sou Colombina

Eu sou Pierrot
Mas é carnaval

Não me diga mais quem é você
Amanhã, tudo volta ao normal

Deixe a festa acabar

Deixe o barco correr

Deixe o dia raiar
Que hoje eu sou

Da maneira que você me quer

O que você pedir

Eu lhe dou

Seja você quem for

Seja o que Deus quiser

Seja você quem for
Seja o que Deus quiser

Noite dos Mascarados, Chico Buarque

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