Mal acabava o período carnavalesco, que atualmente não se limita apenas aos três dias, era hora de pensar na quaresma, que antigamente se levava muito a sério quando a força do protestatismo não se fazia notar como hoje.
Depois da quarta feira de cinzas tínhamos de esquecer as loucuras cometidas durante a folia e pensarmos na Páscoa, olhando a Via Crucis que estava na parede da igreja que frequentávamos, embora só de vez em quando, ou em forma de lindos vitrais. Nela se desdobrava toda agonia vivida por Jesus carregando uma cruz pesada no ombro, até chegar ao Monte Calvário onde seria crucificado.
A cada vez que via a Via Crucis sentia correr um frio na espinha dorsal, principalmente na Sexta Feira da Paixão.
Vivendo numa cidade do interior, tinha por obrigação visitar a igreja durante a quaresma, entrar numa longa fila e esperar minha vez de chegar ao altar, onde devia ajoelhar-me e ver de perto a imagem de Jesus cheio de chagas e uma coroa de espinhos com sangue escorrendo pela testa, coberto apenas por um exíguo pano branco, os pés cruzados como se ainda estivesse pregado na cruz, machucados e também sangrando.
Lembro da primeira vez. Era somente uma criança levada da breca, acostumada a apanhar e receber cascudos que nada resolviam. Ao chegar diante da imagem em tamanho natural, era como se estivesse diante do verdadeiro Jesus morto. Os olhos encheram-se de lágrimas e tratei de fazer meia volta rapidinho, sentindo-me a pior espécie de gente, sem entender como era que na manhã seguinte seguiria atrás da procissão de Aleluia, cantando hinos de alegria pela ressurreição de Jesus.
Felizmente, hoje em dia não há obrigação de entrar naquela fila, nem de levar as crianças para fazê-lo, semelhante à de um cinema ou de um parque de diversão, para ver de perto quanto Jesus sofreu.
Ainda com aquela imagem Dele morto na cabeça, jamais senti vontade de ir à Nova Jerusalém para a encenação da Paixão de Cristo, com atores belos e sarados representando Jesus.
Conceição Pazzola
Olinda, 5/3/2010
A cada vez que via a Via Crucis sentia correr um frio na espinha dorsal, principalmente na Sexta Feira da Paixão.
Vivendo numa cidade do interior, tinha por obrigação visitar a igreja durante a quaresma, entrar numa longa fila e esperar minha vez de chegar ao altar, onde devia ajoelhar-me e ver de perto a imagem de Jesus cheio de chagas e uma coroa de espinhos com sangue escorrendo pela testa, coberto apenas por um exíguo pano branco, os pés cruzados como se ainda estivesse pregado na cruz, machucados e também sangrando.
Lembro da primeira vez. Era somente uma criança levada da breca, acostumada a apanhar e receber cascudos que nada resolviam. Ao chegar diante da imagem em tamanho natural, era como se estivesse diante do verdadeiro Jesus morto. Os olhos encheram-se de lágrimas e tratei de fazer meia volta rapidinho, sentindo-me a pior espécie de gente, sem entender como era que na manhã seguinte seguiria atrás da procissão de Aleluia, cantando hinos de alegria pela ressurreição de Jesus.
Felizmente, hoje em dia não há obrigação de entrar naquela fila, nem de levar as crianças para fazê-lo, semelhante à de um cinema ou de um parque de diversão, para ver de perto quanto Jesus sofreu.
Ainda com aquela imagem Dele morto na cabeça, jamais senti vontade de ir à Nova Jerusalém para a encenação da Paixão de Cristo, com atores belos e sarados representando Jesus.
Conceição Pazzola
Olinda, 5/3/2010
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