domingo, 12 de outubro de 2008

CIÚME


La Balaucoire, Renoir


Ao aparecer diante dele de vestido novo ou de ruge e batom Giovanni ria, dizia gracejos, a reação incomodava, no íntimo sentia-me lisonjeada, aquele homem me amava. Desculpava-o pelo excesso de zelo ou de ciúme, porém teria de aceitar-me como sempre fora, vaidosa.

Toda noiva gosta de se fazer bonita na véspera de seu casamento.

Saí do salão de beleza quase ao anoitecer, ao olhar o relógio vi quanto estava atrasada. Combináramos levar mamãe conosco à Santa Tereza para os últimos retoques em nosso minúsculo apartamento de quarto, terraço, sala e cozinha onde receberíamos os convidados depois das cerimônias. Está no plural porque naquele tempo o casamento civil acontecia no cartório, separado do religioso.

Ao chegar ao cruzamento da Rua Senador Pompeu (vizinhanças da Central do Brasil) avistei-o, vinha em direção contrária. Por um triz não passou rente a mim.

Sorri e estaquei à sua frente. Hesitante, mirou-me com espanto, sem palavras. Possuía a rara qualidade de ser espontâneo quase transparente:

- O que aconteceu com seu cabelo?

Em resposta sacudi a cabeça feliz da vida para balançar os cachos, grande sonho de toda mulher que nasce de cabelos muito lisos e respondi:

- E aí, gostou?

Com a sua habitual franqueza o meu noivo desanuviou a carranca, rodeou-me, beijou-me e comentou:

- Ainda bem que vi antes, senão ia achar que trocaram você.


Conceição Pazzola 12/10/2008

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