quarta-feira, 29 de outubro de 2008
CIÚME (2)
Nem sempre é percebido de imediato, mas se manifesta de várias formas. A diferença de idade nunca me pareceu problema, no entanto para ele a minha juventude era um fator a considerar. Ainda recém-casada, habituada a freqüentar a missa dos domingos achei que podia fazê-lo, devidamente informada fui à igreja mais próxima de onde morávamos. Santa Tereza é um dos mais bonitos recantos do Rio de Janeiro, um paraíso à parte, parecia-me estar num conto de fadas ao ver lá em baixo a cidade, a baía da Guanabara e bem perto, o Corcovado.
Quando a missa acabou, misturada aos fiéis desci a escadaria, pensativa, não o vi de imediato. Antes de sair de casa o deixara a dormir tranqüilamente, fizera o possível para não provocar nenhum barulho. Sorriu antes de rodear-me os ombros num gesto protetor e começamos a andar pela rua estreita sempre enladeirada, como todas de Santa Tereza. A brisa gostosa varria-me os cabelos, embora estivéssemos em pleno verão. Depois de algum tempo em silêncio perguntou:
- Como foi sua missa?
Achei engraçado, o que poderia dizer? Afirmava que era católico, mas não o vira demonstrar interesse em fazer-me companhia.
- Normal, como todas.
Olhou-me com atenção e começou a discorrer sobre a natureza dos padres, apesar de tudo são homens iguais a ele, preferia que deixasse de ir sozinha.
- E todas as outras mulheres, será que o padre tem tanta maldade assim?
- Das outras eu não sei – respondeu depressa – Prefiro que não faça mais isso, me chame.
- Mas você não gosta de ficar lá dentro por muito tempo.
Ele mais que depressa mudou de assunto:
- Vamos tomar um sorvete?
A missa foi o preâmbulo, depois vieram os médicos, os professores, os colegas de faculdade, todos que cruzavam o meu caminho sem que estivesse presente. . Quando não podia acompanhar-me devia contar como tudo acontecera. Estava sempre a esperar com olhar ansioso, do lado de fora ou em casa. Na verdade eu me sentia lisonjeada com tanto cuidado, gostava de vê-lo aparecer sem avisar, tentava não brigar pela falta de confiança, muitas vezes isso foi necessário.
Com o passar dos anos compreendi que não poderia fazer nada além de demonstrar quanto o respeitava. Cheguei à conclusão que seria inútil tentar modificar o seu jeito de pensar e agir.
Conceição Pazzola
29/10/2008
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