sábado, 3 de abril de 2010

O PELADINHO DE ASAS

Imagem google


“... O que sei é
que a probabilidade de uma ave,
neste instante,
cair sobre vossa cabeça,
devido a direção dos ventos
e a época do ano,
é de 0,052 por cento...”


M. da Graça Ferraz - Poema 2474
Gracias a la vida



E não é que esse percentual tão insignificante se tornou realidade? Caiu. Tão pequenino! Só uma coisinha cor-de-rosa sem penugem alguma, chegou pelas mãos de Ravenna (encontrada na rua) e está onde ela carinhosamente aninhou-a. Uma caixa vazia de sapatos, lâmpada acesa, flocos de algodão e toalha dobradinha (da mãe) para aquecê-lo. Acredita que sobreviverá. Chegou a hora de sair para o trabalho. Quem cuidaria do projetinho de passarinho?

Ela sabe a Voinha que tem. Na ponta dos pés dei uma espiada. A coisinha pelada e cor-de-rosa estava mais viva do que nunca, de bico escancarado, igual aos filhotes nos ninhos à espera da mãe passarinho trazer comida. Nenhum som e um minúsculo olho aberto. Como ser substituta de mãe passarinho? Nada de entrar em pânico.

Experimentei dar minúsculos farelos de pão. Engasgou-se, virgem mãe, que faço? Busquei um potinho d'água, engoliu com grande dificuldade, aquietou-se. À tarde a coisinha cor-de-rosa já emitia um piado fraquinho, fraquinho. Força de vontade para sobreviver! Hora de comemorar? Ainda não.Não é que estou ficando expert em mãe-passarinho? Vou lá de vez em quando, está de bico aberto? Alguns grãozinhos de fubá e água. A coisinha cor-de-rosa cansa depressa e dorme. Tomara que resista pelo menos até de noite!
No dia seguinte:
O peladinho de asas aprendeu a piar e não somente sobreviveu. Ganhou status de novidade, recebeu visitas. Quando voltei das compras, encontrei-o piando como louco em sua improvisada casa (caixa vazia de sapatos) no meu quarto (!) enquanto Ravenna lambuzava minha cama de acetona, água e esmalte, totalmente absorta a cuidar de unhas. Fazer o quê? Ela me disse que o projeto de passarinho piara a noite inteira. Desconfiei que fosse sobrar pra mim. A tia e o amigo haviam opinado sobre a espécie de seu pequeno e indefeso amigo.

Os dois examinaram todos os ângulos e foram taxativos: Filhote de urubu: olha o bico! Heliane contemporizou: Pode ser que algum pato selvagem passou voando por acidente e perdeu a cria... Isso movimentou a improvisada manicure direto para o computador. Corri ao ouvir o grito: na tela vi três peladinhos de asas idênticos ao nosso hóspede mirim, lindinhos, segundo Ravenna.

Para não contrariá-la, fui aos afazeres refletindo se patos selvagens sobrevoam minha cidade soltando as crias sem para-quedas. Esse mundo está mesmo perdido. Cá entre nós e o mundo todo, acredito que o piador mirim é filhote de pardal. Caso sobreviva, descobriremos! Stop para atender aos aflitos piados...
No outro dia:
Hoje o pequenino Mister M está feliz lá no céu dos passarinhos, certamente ganhou penas e força nas asas para voar e voz para cantar bastante.
Conceição Pazzola
01/10/2008

Um comentário:

Anônimo disse...

que dó...