domingo, 4 de abril de 2010

ILHA DE ITAMARACÁ

Imagem google



As lembranças de menina parecem sonhos bonitos, e como em sonho viajo no tempo com minha família, numa manhã domingueira de verão para a Ilha de Itamaracá.
Os passeios aconteciam em ônibus ou caminhões de aluguel. Mal o dia clareava, estávamos na estrada, muito pior do que atualmente, era preciso ter coragem e disposição para enfrentá-la.
Depois de Paratibe e de Abreu e Lima o sol esquentava, e devagarinho o sono ameaçava fechar-me os olhos. Um cochilo e a cabeça, depois o corpo inteiro pendia sobre o vizinho. Uma sacudidela brusca devolvia-me à realidade.
Antes de chegar à ponte e depois dela, os ilheus de pés descalços e chapéus de palha ofereciam frutas e verduras, colhidas em seus modestos roçados. À beira da estrada tudo é vendido: caju, jaca, mandioca, fruta-pão, banana, coentro, tomate, castanha, feijão verde, coco, cana-de-açúcar em rolete, etc.
A primeira parada foi na Penitenciária Agrícola, atualmente de São João. Visitamos a exposição de trabalhos artesanais dos presidiários em casca de coco, marisco, espinha de peixe e osso polido. Estojos, cestas, pentes e muitos outros objetos bonitos.
Itamaracá tornou-se famosa pela Coroa do Avião, que “é um dos lugares mais bonitos do litoral norte pernambucano: tem águas calmas e piscinas naturais e fica numa área rica em manguezais. A Coroa é habitat natural de aves migratórias e por conta disso, lá existe uma Estação de Estudos Sobre Aves Migratórias e Recursos Ambientais da Universidade Federal de Pernambuco. Essa Ilhota de areia branca tem águas mornas e claras e está situada em frente ao Forte Orange, de onde saem frequentemente os barcos para lá”.
No Forte Orange construído pelos holandeses, as vendedoras de passa de caju oferecem aos visitantes uma colherada para experimentar.
Passamos por Vila Velha e Pilar. Atraídos pelas sombras benfazejas dos cajueiros, acampamos em Jaguaribe. Cada um carregou sua sacola ou bolsa a tiracolo com os pertences. Mamãe, que raramente nos acompanhava, embora nada dissesse torceu o nariz diante da tenda listrada que meus irmãos montaram na praia.
Chamou meu pai para um passeio de reconhecimento. Cada um prendeu nas suas as pequenas mãos de filhos menores e lá fomos nós, a pular alegremente no quebra-mar. Criada em cidade de interior, mamãe costumava perguntar o primeiro nome das pessoas antes de pedir qualquer informação.
Assim foi que não precisamos tostar o dia inteiro ao sol inclemente. Graças ao modo de viver de Dona Sebastiana, passamos o domingo na casa de um pescador e de sua generosa mulher. Almoçamos uma gostosa moqueca de peixe com farinha, arroz, feijão de corda e muitas rodelas de abacaxi plantado no quintal.
Entre um mergulho e outro nas águas mornas e claras de Itamaracá, o dia passou depressa. De um lado a outro na beira mar meu pai nos vigiava, enquanto sua mulher continuava na cozinha da nova amiga.
Os pulos e mergulhos afoitos sobre um pneu velho fizeram papai sacudir a roupa na areia e mostrar que estava pronto para tudo. Em calção de banho abriu largas braçadas, aproximou-se, durou pouco o prazer de sua presença. Mergulhou e sumiu sob as águas.
Quase roucos de tanto gritar entreolhamo-nos em aflição, sem querer acreditar nos maus presságios que se chocavam como foguetes no espaço de nossas mentes.
Alívio sem nome tomou conta de nós ao ver suas pernas surgirem à flor d’água.
Depois de plantar bananeira, ele se aproximou sorridente para nos oferecer os ombros de onde passamos a praticar loucas cambalhotas.



Conceição Pazzola
Olinda, 18/8/2008.

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