O globo da morte, a motocicleta voadora, os trapezistas, a dançarina sobre o cavalo, os palhaços, os pernas de pau, tudo ofuscado pela janela por onde se podia ver o cadáver de pescoço perfurado por peixeira afiada. A trupe circense sem máscaras, sem fantasias soluçava a perda da atriz principal, mulher do dono do circo. Depois da longa noite de velório nunca mais se ouviu falar deles.
“Hoje tem espetáculo? Tem sim senhor! Às seis horas da noite? Tem sim senhor!
E o palhaço o que é, é ladrão de mulher?”
A tarde que prometia ser de festa terminou mais cedo quando o menino foi devorado pelo leão diante do pai. Os animais sumiram dos picadeiros enquanto durou a comoção popular.
Não dá para esquecer o circo de Niterói que pegou fogo num domingo festivo.
Morte e circo não combinam.
Prefiro transportar-me ao momento feliz em que fui com meu pai, há tanto tempo atrás, pela primeira vez desvendar o mistério, o colorido, a alegria esfuziante da lona armada na Rua da Mangueira.
Somente um homem e uma menina de vestido domingueiro a devorar com olhos abismados o espetáculo inesquecível tantas vezes sonhado.
Conceição Pazzola
30/9/2008