As lembranças de menina parecem sonhos bonitos e como em sonho viajo no tempo com minha família numa manhã domingueira de verão para a Ilha de Itamaracá.
Os passeios domingueiros aconteciam em ônibus ou caminhões de aluguel. Mal o dia clareava estávamos na estrada ainda mais precária do que atualmente; era preciso munir-se de coragem e disposição para enfrentá-la.
Depois de Paratibe e de Abreu e Lima o sol esquentava, devagarzinho o sono ameaçava fechar-nos os olhos. Um cochilo mais comprido, a cabeça, depois o corpo inteiro pendia sobre o vizinho; uma sacudidela brusca nos trazia de volta à realidade.
Antes de chegarmos à ponte e depois dela avistávamos os ilhéus de pés descalços e chapéus de palha a oferecer frutas e verduras colhidas nas pequenas roças. Na beira de estrada tudo aparece: caju, jaca, mandioca, fruta-pão, banana, coentro, tomate, castanhas, feijão verde, coco, cana-de-açúcar em roletes, etc.
A primeira parada foi na Penitenciária Agrícola. Os guardas nos levaram aonde os presidiários mantinham em exposição seus trabalhos artesanais em casca de coco, mariscos, espinha de peixe e ossos polidos. Estojos, cestas, pentes e muitos objetos bem feitos.
Itamaracá tornou-se famosa pela Coroa do Avião que “é um dos lugares mais bonitos do litoral norte pernambucano: tem águas calmas e piscinas naturais e fica numa área rica
No Forte Orange (Laranja) construído pelos holandeses, as vendedoras de passa de caju oferecem aos visitantes uma colherada para experimentar.
Passamos por Vila Velha e Pilar; atraídos pelas sombras benfazejas dos cajueiros acampamos
Aproveitou a agitação e chamou o meu pai para um passeio de reconhecimento; cada um prendeu nas suas as pequenas mãos de filhos menores e lá fomos a pular alegremente no quebra-mar. Criada em cidade de interior ela costumava perguntar o primeiro nome dos passantes, antes de pedir informações.
Assim foi que não precisamos tostar o dia inteiro ao sol inclemente, graças ao modo de viver de Dona Sebastiana hospedamo-nos em casa de um simpático casal. Ele pescador, ela mulher do lar muito prendada que fez questão de oferecer-nos um almoço simples de moqueca de peixe, arroz, feijão de corda e muitas rodelas de abacaxi plantado no quintal.
Entre um mergulho e outro nas águas mornas e claras de Itamaracá o dia passou depressa. De um lado a outro na beira mar o meu pai nos vigiava enquanto a sua mulher continuava na cozinha da nova amiga.
Os pulos e mergulhos afoitos sobre um pneu velho fizeram papai sacudir a roupa na areia e mostrar que se preparara para tudo. Em calção de banho abriu largas braçadas, aproximou-se, durou pouco o prazer de sua presença. Mergulhou e sumiu sob as águas.
Quase roucos de tanto gritar entreolhamo-nos em aflição, sem querer acreditar nos maus presságios que se chocavam como foguetes no espaço de nossas mentes.
Alívio sem nome tomou conta de nós ao ver as suas pernas surgirem à flor d’água.
Depois de plantar bananeira ele se aproximou sorridente para nos oferecer os ombros de onde passamos a praticar loucas cambalhotas.
Conceição Pazzola
Olinda, 18/8/2008.
Fotos da Pousada Peter (Olinda-PE):
Forte Orange e Coroa do Avião e Praia de Itamaracá vista da Coroa do Avião.
3 comentários:
Querida Conceição,
Permita-me expor: ILHA DE ITAMARACÁ
Brilho da lua,/lua cheia/
e noite linda,/fez tocar/
o meu cantar./
Tá com a brisa do mar (Coro)
Canto alto,/te acorda,/
acorda a ilha...
Tá com a brisa do mar (Coro)
O clima da ilha/Causa na gente/
Um bem-estar./
Tá com a brisa do mar {Bis}
Ilha de Itamaracá {Bis}
José Calvino
Itamaracá, 07/set/2007.
Lindo o que você escreveu, Conceição, que singelo, que tempos bemfazejos!!!
Quanta Saudade desses tempos!!!
Lembro-me quando Candeias era só Cajueiros e Mangabeiras, e andávamos de cavalo à beira-mar...
"essa ciranda quem me deu foi Lia que mora na ilha de Itamaracá..."
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