terça-feira, 26 de agosto de 2008

DEPOIS DA CHUVA


O meu texto Depois da Chuva foi escrito há mais de vinte anos atrás. No entanto as coincidências existem. Descobri por acaso na Internet, que existe um filme japonês com o mesmo título. Vejam que interessante:


Tributo a Akira Kurosawa (SP)

A partir de um roteiro de Akira Kurosawa, o diretor Takashi Koizumi realizou uma homenagem ao mestre japonês, contando uma história que ele não conseguiu filmar antes de sua morte, no ano passado, aos 88 anos.
Quando um rio transborda por causa de uma enchente, um grupo de viajantes é obrigado a ficar numa pequena hospedagem. Misawa, um ronin pobre, e sua mulher Tayo estão entre eles. A chuva continua, aumentando a tensão entre os hóspedes. Assim, Ihei decide organizar uma festa, para elevar o ânimo do grupo. Sem dinheiro para levar seu projeto adiante, ele vai até o castelo vizinho e faz uma aposta com um mestre de esgrima. Embora desastrado nas relações humanas, ele é formidável neste duelo a dinheiro, mesmo que não sendo digno da conduta de um samurai. Shigeaki, o lorde do local, impressionado pelas habilidades de Ihei, o convida para ser o mestre de esgrima em seu feudo. Ihei fica encantado com a oferta, despertando a inveja dos outros lutadores, que acham que este posto deveria ser de um deles.
"Nas anotações que Kurosawa fez em seu roteiro de Depois da Chuva (Ame Agaru, Japão, 1999), ele escreveu: `Deve ser uma história que, depois de ser vista, faça você se sentir satisfeito'. Já faz um ano que ele morreu. Com minha pequena equipe e elenco, eu filmei o roteiro de Kurosawa da maneira como ele queria e com o sentimento de gratidão por sua obra".


DEPOIS DA CHUVA

O dia amanheceu claro e ensolarado, o vento corre por toda parte traz de volta a esperança e o otimismo. Renovada, a atmosfera alegra e beatifica o espírito. Respiro longamente, as forças renovadas para a luta do dia-a-dia sinto no rosto a tepidez benfazeja da brisa. Agradecida, aprecio as folhas lavadas das árvores, em sua maioria pertencentes ao tradicional cemitério de Santo Amaro onde o melhor adubo é o próprio homem.

Do alto deste prédio continuo a observar a Natureza resplandescente, acode-me o pensamento de como Deus soube fazer as coisas. Ele preparou o Universo em primeiro lugar, deu flores e frutos às árvores, calor e frio, rios e mar à Terra. Chuva, sol, lua e estrelas ao Céu, povoou o mundo com animais de todos os tipos. Por último fez o Homem à Sua imagem e semelhança. Depois Deus descansou.

Aqui está a Natureza renovada depois de uma noite inteira de chuva diante de meus olhos, como um brinde de Sua presença. É pena que não aconteça a mesma coisa com o ser humano. Depois de uma vida atribulada entre lutas e atropelos pela sobrevivência nem sempre o homem dá a imagem que tenho agora da Natureza.

Surpreende-me mais uma vez a grandeza e a sabedoria divina, guardando o surgimento do ser humano para o penúltimo dia de Criação. Com o seu espírito imperfeito, tivesse chegado primeiro o homem a destruiria, a Natureza nem teria chance de florescer e frutificar.

Conceição Pazzola

domingo, 24 de agosto de 2008

SEM APLAUSOS




Desertos ficaram os camarins

Sem máscaras sem fantasias

De colorido cetim esquecidas

Soltas nos cabides pelas coxias


Por inúteis as luzes são apagadas

Sumidos nos instantes de espelhos

Mil cenas com trejeitos ensaiados

Ecoam nos corredores os conselhos


Paira por toda parte o silêncio

Contagiante é o total negrume

Atrás de imensos reposteiros

Perduram vestígios perfumados

Presentes e sonhos vaga-lumes



Guardado no grande palco vazio

Por trás das cortinas fechadas

Resiste novo alento e desafio



Volta à cena o ator principal

Do espetáculo há retomada

Ainda distante do ato final


Reaberta da vida a cortina

Mais uma vez se aproxima

O clímax de cenas e de sina


De novo é espetáculo humano

No mesmo teatro a compasso

Tudo em seu lugar, sobe o pano

Aplaudam os artistas os palhaços.



Conceição Pazzola

09/10/1998.


Foto: Atelier Roxane de Máscaras - Carnaval em Veneza.






segunda-feira, 18 de agosto de 2008

ILHA DE ITAMARACÁ




As lembranças de menina parecem sonhos bonitos e como em sonho viajo no tempo com minha família numa manhã domingueira de verão para a Ilha de Itamaracá.

Os passeios domingueiros aconteciam em ônibus ou caminhões de aluguel. Mal o dia clareava estávamos na estrada ainda mais precária do que atualmente; era preciso munir-se de coragem e disposição para enfrentá-la.

Depois de Paratibe e de Abreu e Lima o sol esquentava, devagarzinho o sono ameaçava fechar-nos os olhos. Um cochilo mais comprido, a cabeça, depois o corpo inteiro pendia sobre o vizinho; uma sacudidela brusca nos trazia de volta à realidade.

Antes de chegarmos à ponte e depois dela avistávamos os ilhéus de pés descalços e chapéus de palha a oferecer frutas e verduras colhidas nas pequenas roças. Na beira de estrada tudo aparece: caju, jaca, mandioca, fruta-pão, banana, coentro, tomate, castanhas, feijão verde, coco, cana-de-açúcar em roletes, etc.

A primeira parada foi na Penitenciária Agrícola. Os guardas nos levaram aonde os presidiários mantinham em exposição seus trabalhos artesanais em casca de coco, mariscos, espinha de peixe e ossos polidos. Estojos, cestas, pentes e muitos objetos bem feitos.

Itamaracá tornou-se famosa pela Coroa do Avião que “é um dos lugares mais bonitos do litoral norte pernambucano: tem águas calmas e piscinas naturais e fica numa área rica em manguezais. A Coroa é habitat natural de aves migratórias e por conta disso lá existe uma Estação de Estudos Sobre Aves Migratórias e Recursos Ambientais da Universidade Federal de Pernambuco. Essa Ilhota de areia branca tem águas mornas e claras e fica em frente ao Forte Orange, de onde saem frequentemente os barcos para lá”.

No Forte Orange (Laranja) construído pelos holandeses, as vendedoras de passa de caju oferecem aos visitantes uma colherada para experimentar.

Passamos por Vila Velha e Pilar; atraídos pelas sombras benfazejas dos cajueiros acampamos em Jaguaribe. Cada um carregou sua sacola ou bolsa a tiracolo com os pertences. Mamãe, que raramente nos acompanhava, embora nada dissesse torceu o nariz diante das tendas listradas que os meus irmãos montaram na praia.

Aproveitou a agitação e chamou o meu pai para um passeio de reconhecimento; cada um prendeu nas suas as pequenas mãos de filhos menores e lá fomos a pular alegremente no quebra-mar. Criada em cidade de interior ela costumava perguntar o primeiro nome dos passantes, antes de pedir informações.

Assim foi que não precisamos tostar o dia inteiro ao sol inclemente, graças ao modo de viver de Dona Sebastiana hospedamo-nos em casa de um simpático casal. Ele pescador, ela mulher do lar muito prendada que fez questão de oferecer-nos um almoço simples de moqueca de peixe, arroz, feijão de corda e muitas rodelas de abacaxi plantado no quintal.

Entre um mergulho e outro nas águas mornas e claras de Itamaracá o dia passou depressa. De um lado a outro na beira mar o meu pai nos vigiava enquanto a sua mulher continuava na cozinha da nova amiga.

Os pulos e mergulhos afoitos sobre um pneu velho fizeram papai sacudir a roupa na areia e mostrar que se preparara para tudo. Em calção de banho abriu largas braçadas, aproximou-se, durou pouco o prazer de sua presença. Mergulhou e sumiu sob as águas.

Quase roucos de tanto gritar entreolhamo-nos em aflição, sem querer acreditar nos maus presságios que se chocavam como foguetes no espaço de nossas mentes.

Alívio sem nome tomou conta de nós ao ver as suas pernas surgirem à flor d’água.

Depois de plantar bananeira ele se aproximou sorridente para nos oferecer os ombros de onde passamos a praticar loucas cambalhotas.



Conceição Pazzola

Olinda, 18/8/2008.




Fotos da Pousada Peter (Olinda-PE):

Forte Orange e Coroa do Avião e Praia de Itamaracá vista da Coroa do Avião.


sábado, 16 de agosto de 2008

Chegada e Partida



Vou ao carrossel da vida
Repleto de sentimentos
Desde a hora de partida
No rodopio vertiginoso
Os sorrisos e lamentos
Giram tontos e fogosos
Sem arrependimentos

Galopo meu cavalinho
Não sei quando apear
Vivo bem de mansinho
Vento forte nos cabelos
Levados assim ao léu
Perdi todos os medos
Nos giros de carrossel



Conceição Pazzola
Olinda, 25/7/2008



CARROSSEL - FOTO DO WIKIPÉDIA

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

SANTA CLARA, CLAREAI O MUNDO













Hoje, 11 de agosto de 2008 é Dia do Estudante, do Advogado e de Santa Clara de Assis.

Nascida como Chiara d'Offreducci (Assis, 11 de Julho de 1193 - Assis, 11 de Agosto de 1253). O interessante é que seu nome vem de uma inspiração dada à sua religiosa mãe, a qual haveria de ter uma filha que iluminaria o mundo.

Pertencia a uma nobre família e era dotada de grande beleza. Destacou-se desde cedo pela sua caridade e respeito para com os pequenos, tanto que ao deparar-se com a pobreza evangélica vivida por São Francisco de Assis foi tomada pela irresistível tendência religiosa de segui-lo.

Enfrentando a oposição da família, que pretendia arranjar-lhe um casamento vantajoso, aos dezoito anos, Clara abandonou seu lar para seguirJesus mais radicalmente. Para isto foi ao encontro de São Francisco de Assis na Porciúncula e fundou o ramo feminino da Ordem Franciscana, também conhecido como das Damas Pobres ou Clarissas. Viveu na prática e no amor da mais estrita pobreza.

Seu primeiro milagre foi em vida, conta-se que uma das irmãs de sua congregação havia saído para pedir esmolas para os pobres que iam ao mosteiro. Como não conseguiu quase nada, voltou desanimada e foi consolada por Santa Clara que lhe disse: "Confia em Deus!"

Quando a santa se afastou, a outra freira foi pegar o embrulho que trouxera e não agüentou mais levantá-lo. Tudo havia se multiplicado. Em outra ocasião, quando da invasão de Assis pelos sarracenos, Santa Clara apanhou o cálice com hóstias consagradas e enfrentou o chefe deles, dizendo que Jesus Cristo era mais forte que eles. Os agressores, tomados de repente por inexplicável pânico, fugiram. Por este milagre é que Santa Clara segura o cálice na mão.

Um ano antes de sua morte em 1253, Santa Clara assistiu a Celebração da Eucaristia sem precisar sair de seu leito. Neste sentido é que é aclamada como protetora da televisão.

É a Fundadora do ramo feminino da Ordem Franciscana.


(Texto extraido da Wikipédia)




terça-feira, 5 de agosto de 2008

MAIS UM DIA QUATRO

O frio fugiu despercebido e a manhã deixou de ser sombria quando o sol veio aquecer por dentro e por fora.

Indiferente à mudança climática continuei entretida a te ver dançar ao som contagiante da filarmônica de teu primo pelo lado materno, aquele que não vias há mais de trinta anos. Ficou tão feliz com o reencontro que prometeu derrubar um avião para que nunca pudéssemos deixá-lo.

O filme de nossa viagem esperava por um momento como o de hoje, quando os meses já passaram um sobre o outro, amenizaram a dor de tua partida.

Ainda assim os olhos umedeceram, às pressas expulsei a tristeza da sala, sorri para ti que passeavas de barco com o braço sobre os meus ombros, vez por outra me olhavas a confirmar se estava junto.

Desembarcamos no meio de muita gente na antiga gruta formada por estalactites naturais na Sardenha, andamos pelas ruas de Roma, passeamos no interior da Capela Sistina, subimos os degraus do Vaticano para admirar a praça São Pedro, passeamos pelas fontes de Rimini, antiga colônia de férias dos imperadores romanos servidos por escravos onde aconteciam bacanais na era romana.

Estamos lado a lado, de vez em quando tu acendes o cigarro e guardas discreta distância, cuidado que os anos de convivência ensinaram a ter comigo.

Vejo-te dançar e pular como criança com a tarantela sarda e a alegria é tão contagiante, em torno as pessoas também cantam, dançam, batem palmas, pareces me dizer para te recordar assim, feliz, alegre, transbordando vida. O filme é um alento renovador, dissolve a dolorosa imagem de teus últimos dias.

Novamente me dou conta que o tempo pode, sim, amenizar a dor da partida. Não estou certa se diminuirá a saudade.

Conceição Pazzola

Olinda, 4/8/2008