Você se lembra amor, daquela mangueira plantada antes do nascer do sol, na hora em que a terra ainda dorme?
Mal o dia clareou fomos de mãos dadas para ver onde haveria de brotar, crescer e frutificar a sua nova árvore.
Olho pela janela o chão molhado e nada mais vejo, dela restou a mancha escura de óleo queimado, precaução para que o tronco cortado não voltasse a brotar.
Devorada pelos cupins a mangueira ainda servia de moradia para dois valentes pica-paus.
Agora a chuva cai na calçada, inútil, fria e lembro de quando a terra e o sol alimentavam a mangueira para que ela gerasse lindas mangas espada.
O muro de cinco metros da casa ao lado a proibiu de continuar verde, frondosa, mesmo assim resistiu bravamente até que você adoeceu.
Quase despercebida também definhou. Dominada pelos cupins o instinto de preservação imposto pela natureza obrigou-a a lutar. Galhos novos subiram desesperados em direção ao céu à procura de luz e calor enquanto lá embaixo continuava a devastação.
Há um ditado sobre o homem realizado: deixa filhos, árvores e livros.
Na primeira estiada fui ver o quintal. Lá estava o cajueiro viçoso que você também plantou; a laranjeira, o sapotizeiro, o jambeiro roxo sombreia a rua e a mangueira filha da outra continua no mesmo lugar, juntinho à caixa d'água. As árvores asseguram-me, você está aqui.
As folhas e os frutos a cada instante me dizem que a vida vale muito a pena.
Conceição Pazzola
Olinda, 25/7/2008
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