Você se lembra amor, daquela mangueira plantada antes do nascer do sol, na hora em que a terra ainda dorme?
Mal o dia clareou fomos de mãos dadas para ver onde haveria de brotar, crescer e frutificar a sua nova árvore.
Olho pela janela o chão molhado e nada mais vejo, dela restou a mancha escura de óleo queimado, precaução para que o tronco cortado não voltasse a brotar.
Devorada pelos cupins a mangueira ainda servia de moradia para dois valentes pica-paus.
Agora a chuva cai na calçada, inútil, fria e lembro de quando a terra e o sol alimentavam a mangueira para que ela gerasse lindas mangas espada.
O muro de cinco metros da casa ao lado a proibiu de continuar verde, frondosa, mesmo assim resistiu bravamente até que você adoeceu.
Quase despercebida também definhou. Dominada pelos cupins o instinto de preservação imposto pela natureza obrigou-a a lutar. Galhos novos subiram desesperados em direção ao céu à procura de luz e calor enquanto lá embaixo continuava a devastação.
Há um ditado sobre o homem realizado: deixa filhos, árvores e livros.
Na primeira estiada fui ver o quintal. Lá estava o cajueiro viçoso que você também plantou; a laranjeira, o sapotizeiro, o jambeiro roxo sombreia a rua e a mangueira filha da outra continua no mesmo lugar, juntinho à caixa d'água. As árvores asseguram-me, você está aqui.
As folhas e os frutos a cada instante me dizem que a vida vale muito a pena.
Amor de Carnaval é como uma passageira chuva de verão.
Vem com força total e logo se esvai; não se leva a sério.
Não foi assim o que aconteceu durante o Carnaval do Clube Municipal de Paulista há mais de cinqüenta anos atrás quando José Bezerra Filho, o jovem recém chegado do Recife habituado às conquistas fáceis conheceu Adhayl Cardim, a mocinha recatada de tradicional família da cidade industrial de Paulista, uma Paulista ainda dominada por costumes arcaicos.
Aí começaram as dificuldades porque os encontros entre um rapaz e uma moça aconteciam na presença de irmãos, pais ou de parentes mais velhos.
O amor falou mais alto e nenhum obstáculo conseguiu destruir.
O reencontro dos dois aconteceu na cidade do Rio de Janeiro quando José e Adhayl descobriram que a força do amor continuava igual ao primeiro dia em que se viram pela primeira vez.
E assim, diante de Deus e dos homens eles realizaram o grande sonho de se tornarem marido e mulher no dia 11 de julho de 1958.
Feita de muito amor e cumplicidade a família cresceu com a chegada dos filhos Marcos Adriano, George Gustavo e Luís Henrique, cercados também pelos netos,hoje, dia 11 de julho de 2008 eles comemoram as suas Bodas de Ouro.
Que Deus abençoe a união de José Bezerra e Adhayl Cardim que a vida e o amor uniu para juntos trilharem a mesma estrada.
No dia sete de julho aconteceu a conclusão do Curso de Fotografia de Ravenna, que também é poliglota e começou a trabalhar na mesma tarde como professora de Inglês, aos dezoito anos.
Debaixo da sombrinha ela nos convida:
VENHAM VER OS MEUS TRABALHOS...
O grupo dos POETAS INDEPENDENTES foi conferir.Ela ficou feliz com a ilustre presença dos amigos Tânia França, Vera, o poeta-repórter José Calvino, nosso moderador Clóvis Campelo, sua Voinha e o fotógrafo amador Álvaro Coelho (que não aparece, é óbvio). Quando a mamãe Elena chegou de tarde registrou presença com a amiga e também concluinte Dandara
Na cidade industrial de Paulista, região metropolitana do Recife, a oito de julho de 1924 nasceu Arnaldo Cardim de Carvalho, o primogênito de Alfredo Cardim de Carvalho e de Sebastiana Ferreira de Araújo, ele comerciante e ela operária, depois voltada às prendas do lar.
Cresceu numa região dominada por chaminés de fábricas de tecidos e cercada pelos canaviais onde havia fartura de mão de obra barata explorada pelo coronelismo e donos de engenho. Viu a família crescer e a casa da Rua da Matinha se encher de irmãos.
De natureza combativa superou os obstáculos da origem humilde, limitações de instrução, saúde, dificuldades regionais e se projetou no cenário paulistense.
Durante cinqüenta e sete anos tentou ser acima de tudoo exemplo de filho, pai, irmão, tio, primo, avô, amigo e profissional competente.
Depois do casamento com Valdecy Torres deixou a Contadoria da Fábrica de Tecidos Paulista para se tornar fotógrafo autônomo.
Arnaldo Cardim se tornou indispensável nos eventos sociais ou particulares dentro e fora de Paulista.
Conquistou o seu lugar ao sol, um milhão de amigos e faleceu no dia 3 de outubro de 1980 derrotado na luta contra o câncer.
Já se passaram vinte e oito anos desde quando isso aconteceu. O nome do fotógrafo Arnaldo Cardim ainda é lembrado em Paulista ou pelos antigos moradores da região.
Arnaldo devorava livros, tornou-se autodidata e aprendeu a projetar moradias. Deixou o seu nome gravado na história do município por todo o sempre.
Correto, compreensivo, inteligente, a sua morte prematura transformou-o num ídolo e força propulsora que me ajuda nas horas adversas.
Arnaldo, onde quer que esteja saiba que continuo a amá-lo. Devo-lhe muito, principalmente as suas inesquecíveis lições de amor, compreensão e respeito ao ser humano.
Olinda, 08 de julho de 2008.
Conceição Pazzola
FOTO:
ARNALDO CARDIM - PRIMEIRO À ESQUERDA DA FOTO
Penso em ti e só o vento é testemunha silenciosa, quando sopra em meu rosto desfaz a tua imagem de meus sonhos acordo para a saudade e o desgosto
Lembro-te todo dia, toda hora sinto falta apenas de retalhos bons cortados de nosso hiato de amor lembro deles até nos sons de agora
De nossa música, de tanto carinho. Sobraram tuas juras, embora falsas guardadas nos instantes em que juntinhos vivemos o amor intenso, fugaz, esparso.
Vivo hoje a pedir por louca chance mesmo impossível, para te dizer quanto seria tão feliz se o acaso trouxesse nem que fosse de relance último instante em teus braços pra viver.
SOU A ESCRITORA, A POETA E A NORDESTINA TRAZIDA PELOS VENTOS QUENTES, PELO MAR DE ÁGUAS TÉPIDAS, PELA BELEZA NATURAL E IRRESISTÍVEL DA CIDADE HISTÓRICA ONDE MORO E QUE SE CHAMA OLINDA.