segunda-feira, 19 de maio de 2008

UMA MANHÃ QUALQUER



Ele se identificava com a terra, para mim ele era a própria terra quando a remexia sem ligar para as mãos sujas, cavava para enterrar as sementes. Sementes de fruta fresca comprada na feira bem pertinho de casa. Acompanhava dia por dia a natureza seguir o seu curso até a planta rasgar o ventre da terra, aparecer ainda tenra, disposta a crescer para a vida, fortalecer-se, frutificar. Jeitosamente cuidava de escorá-la com graveto; todos os dias consultava o céu se havia nuvem de chuva , a sua plantinha não podia morrer de sede.

Sentado no pequeno terraço, de sua cadeira de balanço seguia paciente o deslizar vagaroso do gato em direção ao canário cantador que costumava gorjear insistente até arrancar-lhe um sorriso satisfeito. Seguia atentamente o passeio manhoso do gato pelo galho da árvore, no íntimo respeitava a persistência do animal enquanto pensava no canário indefeso, em dúvida se ficava por ali sentado ou voltava para dentro de casa. Não precisou esperar muito.

Ouviu o canto do canário que se aproximava cantando sem ligar para o perigo. Do galho mais alto trinou mais forte. Ele abriu um sorriso satisfeito e só então me enxergou, parada na entrada de casa, somente a observar as linhas de seu rosto.

Pai apenas me olhou com ternura e refletiu em voz alta:

- Que passarinho esperto. Veja, agora eu acho que o perigo passou.

O gato amarelo e branco que na verdade era uma gata pinoteou do galho ao chão, sacudiu-se no chão úmido e frio pois a noite chovera grosso. Uma brisa cálida dissipou a umidade noturna, arrepiou os pêlos dos braços e do gato que veio ronronando se enroscar na perna dele.

Ganhou um leve chute como recompensa, desapareceu pelo oitão mais rápido do que a luz. O sol invadiu o terraço, chegou diante da velha cadeira de balanço agora vazia.

Olho-a e sinto os olhos marejados de saudade.

Conceição Pazzola

Maio/2008

3 comentários:

Anônimo disse...

Eita! Além de me lembrar muitos as observações que fazia no sítio de minha avó, claro, na versão infantil-filosófica, me parece também com pequenas crônicas do Graciliano e da Raquel de Queiróz

Anônimo disse...

Òh Linda

Va jangada desliza no mar
Pescador tão feliz
Vai poder navegar
Tuas águas
è um espelho
Que reflete o meu olhar
Tuas águas
È um espelo
Que reflete o meu olhar

Òh linda, Óh bela
Recifes cirdulares de outros sois

Óh linda, Óh bela
Recifes circulares de outros sois

Este frevo e o maracatu
Bonecos se misturam na multidão
Dessas bandas nasceu Vitalino
Grande mestre coração de menino
Sua arte surgiu deste chão

Óh linda, Óh bela
Recifes circulares de outros sois.

mundo azul disse...

Lindas lembranças! Também tenho uma gata e cuido muito para que ela não mate os bichinhos...Gostei desse lugar!!!
Beijos de carinho e uma bela semana!